domingo, 15 de junho de 2008

UTOPIA DA EXPERIMENTAÇÃO

“Sou uma pessoa organizada. Guardo meias na gaveta de meias e drogas na caixa de drogas” (George Harrison – Beatles – Em 1968, comentando uma batida policial em sua casa).


Rock de contestação no rádio; posters dos Beatles e dos Rolling Stones nas paredes de seus quartos; idolatria por Che Guevara, Marx e Marcuse; cigarro com filtros de um lado, maconha do outro; uma câmera fotográfica na mão; idéias incompletas na cabeça. Seu visual inovador, colorido, se contrasta com as tradicionais cores discretas como preto, o branco e o cinza; os cabelos longos se consagram em oposição ao corte militar; as barbas compridas;o coração tomado por uma sede de mudanças. Esse poço de contradições era o jovem que nascia em 68 e que foi constante ao longo dos anos 70. Utópico, sonhador.

As mentes dos garotos e garotas estavam povoadas por projetos coletivos de transformação da sociedade. Existia uma ânsia pelo novo. Esta geração não se acomodou e lutava avidamente contra qualquer tipo de autoritarismo, sonhando com um mundo de paz regido pela imaginário e livre de qualquer repressão. Havia uma explosão de sexualidade e de busca pelo prazer.

Era a hora de experimentar. A geração de 68 experimentou todos os limites possíveis, sejam eles de cunho político, social ou comportamental. Segundo Zuenir Ventura, autor do best-seller “1968 – O ano que não terminou”, “experimentava-se em todas as áreas, quase sempre pelo simples prazer da descoberta”. Essa descoberta se dava pelos gestos de liberdade sexual, pelo inconformismo com os valores existentes e pelas experiências com drogas.

No que diz respeito às drogas, seu uso é uma prática adotada desde a antiguidade. O seu consumo, na maior parte dos casos, estava intimamente ligado às tradições culturais e religiosas dos povos. As plantações de Coca (planta que dá origem à Cocaína), por exemplo, eram comuns por volta do século XV, cultivadas como qualquer outro gênero agrícola. No final do século XIX surgiram grupos de religiosos que iniciaram movimentos em defesa da proibição das drogas, estabelecendo-as como inimigas do puritanismo pregado como um dogma pela religião. Até o início do século XX as drogas eram livremente comercializadas, mas segundo Rodrigues (2003), o debate sobre o consumo destas substâncias começou a se intensificar no começo deste mesmo século, nos EUA.

A proibição do comércio de drogas é estabelecida apenas em 1914 nos EUA e em 1921 no Brasil. Segundo essas novas diretrizes instituía-se a figura do traficante e do usuário como alvos de perseguição. O primeiro deveria ser encarcerado e o usuário, considerado doente, deveria ser tratado. (RODRIGUES,2003,p.30). A partir daí o uso das drogas passou a ser considerado como um ultraje às tradições da sociedade conservadora.

O que ocorre a partir de 68 é uma reviravolta na forma de encarar as antigas instituições que davam base à esta sociedade, incluindo uma nova forma de ver a utilização das drogas. Houve uma espécie de utopia ingênua, de forma que se acreditava que as drogas seriam um caminho para a ampliação do conhecimento, de autoconhecimento, de liberação da sensibilidade e da sexualidade e de expansão da consciência. A droga foi mitificada como “a chave para as portas da percepção”. O livro de Aldous Huxley, com esse título, de 1954, influenciou jovens do mundo todo. Segundo ele, as drogas atuariam nas terminações nervosas – sinapses – permitindo uma maior percepção dos sentidos externos e internos.

Naquela época, até mesmo as esquerdas brasileiras eram, em geral, muito “caretas” a esse respeito e os jovens brasileiros que já adotavam as premissas do movimento hippie eram muito mal vistos. As drogas circulavam muito mais na cultura americana do que nas outras. Os estudantes do Brasil ainda não se pareciam em nada com os jovens americanos, que optavam pelos jeans rasgados e desbotados, pés enfiados em sandálias rústicas, anéis, colares de índio e cabelos longos. As roupas dos jovens contestadores brasileiros eram comportadas e o corte de cabelo mantinha o estilo tradicional. Foi apenas a partir dos anos 70 que o movimento de contra-cultura protagonizado pelos hippie se espalhou, generalizando o consumo das drogas por todo o globo.

O surgimento dos hippies coincide com o auge do sentimento de repudia dos jovens à Guerra do Vietnã. Nenhum outro acontecimento desde a Guerra de Secessão (1861-1865) causou tamanha divisão na opinião pública dos EUA. Os conservadores e a chamada “maioria silenciosa” acreditavam que era uma guerra justa e nobre, de forma que os americanos estavam a impedir uma ameaça comunista. O mundo vivia em plena Guerra Fria e o embate “socialismo X capitalismo” era a principal pauta de todas as discussões e conflitos.

A juventude universitária, os intelectuais e os escritores não concordavam com os argumentos dos conservadores. A duração e a proporção da guerra no Vietnã havia chamado a atenção. Para eles a maior potência do mundo queria impor seu poderio à um pequeno país da Ásia, recorrendo a pretextos pseudo-humanitários que serviam de máscara para os bombardeios, massacres e várias outras atrocidades presenciadas durante a guerra. Uma crescente crítica não só a ação militar mas aos valores globais da sociedade americana foram conseqüências dessa nova maneira de pensar.

Os jovens de 68 nos EUA acharam várias maneiras de contestar essa situação, seja pregando a desobediência civil, seja queimando em grandes manifestações públicas as convocações para o serviço militar, seja vestindo brim e trajes de algodão colorido. Foi nesse contexto que se desenvolvia amplamente o movimento hippie. O auge deste movimento foi o festival de Woodstock, que marcou os valores da geração de 60 e ajudou a divulgar e ampliar o consumo das drogas.

Os jovens desejavam um alívio momentâneo das tensão e frustração causadas pela guerra e viajavam sob o efeito da maconha, das perigosas bolinhas, do haxixe e de alucinógenos como a psilocibina (alcalóide extraído de um cogumelo) e o LSD. O uso do cigarro de tabaco muitas vezes era considerado prejudicial à saúde, enquanto a maconha e outras drogas eram exaltadas devido a sua natureza ilícita, de quebra às antigas normas de conduta. Na procura de “Lucy in the Sky with Diamonds” e outras substâncias, personalidades como Jimi Handrix e Janis Joplin não encontraram o caminho de volta.

A literatura dos jovens de 68 passava desde Herman Hesse, cujos livros centravam-se em histórias orientais de iniciação à introspecção e à meditação nirvânica ao poeta Dylan Thomas, um rompedor de regras. O movimento de contra-cultura era visto como uma dissociação profunda dos pressupostos básicos que regiam a sociedade americana, sendo até mesmo considerado como uma invasão bárbara de aspecto alarmante. Nos anos 70, o movimento ganhou proporções mundiais, espalhando os slogans de “Paz e Amor” e “Faça Amor, Não Faça Guerra”.

De fato as drogas tiveram uma forte influência não só no movimento hippie mas em muitos dos movimentos de contestação que tomaram conta do mundo ao longo do ano de 1968. Sua popularização permitiu a disseminação dos sentimentos de liberdade revolucionária. O que ainda não era percebido nesta época era o potencial destrutivo destas drogas e suas implicações sociais quando ligadas ao crime organizado.

As drogas, atualmente dominadas por multinacionais, são um dos negócios mais rentáveis do mundo. Segundo Zuenir Ventura este seria o pior legado de 68, segundo ele “uma herança maldita”. O uso das drogas pode ser um instrumento de morte, algo extremamente perigoso se não houver respeito e intensão de uso além do “barato”.

O PREÇO DE UMA VERDADE



O filme " O Preço de Uma Verdade" ( Shattered Glass) conta uma história baseada em fatos reais, em que o jornalista Stephen Glass (Hayden Christensen), consegue entrar para a equipe principal de uma das revistas mais importantes de Washington, a "The New Republic". Dentro de sua trajetória na redação, o jornalista utiliza de textos falsos ou de autoria de outras pessoas para ascender na carreira. Sua credibilidade e fama acabam sendo minadas após a descoberta da farsa que envolvia seus textos.

A história se desenvolve ao redor de Stephen, um jovem de 24 anos, muito talentoso, dotado de extrema inteligência, que evoluiu rapidamente de um mero redator a editor e colaborador das mais importantes revistas do país, sendo muito requisitado no mundo jornalístico.

O filme começa com uma apresentação da revista, em uma narração do próprio Stephen, onde se explicita seu mundo; sua personalidade, o meio em que vive, seu relacionamento com as outras pessoas. O autor expõem os fatos de forma clara, em uma sequência bastante interessante, por onde se nota ao longo do filme que Stephen definitavamente esconde algo.

Após a demissão do diretor da revista em que ele trabalhava, Michael Kelly, substituído por Chuck lane, que era um dos redatores, as dúvidas quanto ao comportamento do jornalista começam a surgir. Depois de ter publicado um artigo muito importante, Stephen passa a ser investigado por Adam Penenberg, que mantém suspeitas quanto à veracidade das informações relatadas pelo jornalista. Mesmo após Stephen ter forjado provas à seu favor, Adam acaba desmascarando-o, de modo que Chuck suspende-o por dois anos. Após uma ligação, Chuck descobre que Stephen havia mentido o tempo todo, e acaba demitindo-o.

Informações importantes e esclarecedoras quanto ao fim que levaram os personagens são mostradas ao público no final do filme, como o fato de que o artigo escrito por Adam Penenberg sobre suas descobertas é tido como um marco no jornalismo digital. Além disso, também é exposto que a revista "The New Republic" se desculpou depois formalmente, admitindo que 27 dos 41 artifos escritos por Stephen eram inventados.

O filme torna-se importante, principalmente, para as pessoas envolvidas no mundo jornalístico, porque trata como tema principal a ética, fazendo uma análise sobre uma das mais importantes profissões de nossa sociedade. O filme ilustra bem até que ponto as pessoas podem chegar pra conseguir status e sucesso.

Não se pode deixar de notar que uma das premissas mais importantes da profissão de jornalista é o compromisso com a verdade, premissa esta que era levada totalmente ao contrário pelo personagem principal. É um filme leve, de fácil compreensão e tensão crescente, que mostra o que não se deve fazer na profissão, correndo sérios riscos de estraçalhar uma carreira assim como uma pedra jogada contra um vidro (Glass em inglês).

quinta-feira, 29 de maio de 2008

1968 - O ANO QUE NÃO TERMINOU

O AUTOR
Nascido em Além Paraíba (MG), no dia 1º de Junho de de 1931, Zuenir Ventura é Jornalista e professor universitário há quase 40 anos. Bacharel em Letras Neolatinas pela Ex-Universidade do Brasil, a atual UFRG, também estudou no Centro de Formação de Jornalistas, em paris, aonde também trabalhava como correspondente da "Tribuna da Imprensa".
Acompanhou em Paris a mobilização dos estudantes no maio de 68. Neste ano era tido como o articulador da imprensa do Rio para o Partido Comunista , sendo preso após o AI-5. Dividiu cela com Hélio Pellegrino, Ziraldo, Gerardo Mello Mourão e Osvaldo Peralva, sendo libertado em março de 1969.

O jornalista foi o editor do Caderno B e criador do suplemento Idéias, ambos do Jornal do Brasil. É um dos fundadores da Esdi-Escola Superior de Desenho Industrial. Trabalhou em vários jornais e revistas de peso, exercendo as funções de repórter, redator e editor. Ganhou o prêmio Esso de Reportagem e o Prêmio Wladimir Herzog de Jornalismo em 1989. É autor do best-seller 1968 - O ano que não terminou, foco das principais críticas e comentários das comemorações dos 40 anos de 68, que tem sido um dos principais temas discutidos durante este ano.
O LIVRO

A obra de Zuenir constitui-se como um relato jornalístico e histórico, em que o "romance" dá uma nova perspectiva e visão da realidade. É preciso que se destaque a fidelidade dos fatos jornalísticos descritos na trama, o que caracteriza o livro como um romance~não-fictício. Isse se percebe ao passo de que os recursos literários são essenciais à narração, que conta a história de umas das épocas mais importantes e marcantes da história brasileira.

A forma de narração utilizada por Zuenir traz um "que" de intimidade do leitor com a história, facilitando que pessoas com menos conhecimento acerca do assunto possam se envolver com a trama. O subtítulo da obra, "A aventura de uma geração", retrata bem a época onde as pessoas queriam se fazer ouvidas. Havia um "espírito de revolução", um "espírito de mudanças", um verdadeiro "espírito de 1968". A leitura da obra permite uma espécie de viagem através dos acontecimentos dete ano, que passam desde o "rito de passagem" de um modo de viver a outro completamente novo, influenciado pela "moda" de experimentar, até a imposição da ditadura com o AI-5, que instituiu a censura, os rituais de tortura e se caracterizou como a derrota, pelo menos momentanea, de uma mobilização pela luta pela democracia e pelos direitos civis.

O livro de Ventura faz um fiel relato da geração de intelectuais, artistas e músicos que nasciam naquele período e que foram duramente repreendidos pela ditadura. Essa geração não se acomodou e nem se intimidou na luta contra qualquer tipo de autoritarismo, sonhando com um mundo justo, pacífico, sem repressões e regido pela imaginação. A trama tenta explicar a explosão de sexualidade, violência, prazer e ansiedade que tanto marcou a memória de 68.

O NOVO

Ventura, em 26 de de Abril deste ano, lançou o livro 1968 - O que fizemos de nós. O novo livro vem em uma caixa acompanhado do já clássico 1968 – O ano que não terminou.
Segundo o autor, sua preocupação “foi encontrar no mundo atual o que nasceu ou se desenvolveu em 1968”. O livro é dividido em duas partes. Na primeira, há um relato do que ocorreu no Brasil ao longo desses 40 anos, no qual Zuenir faz ligações entre os ícones de 68 com os jovens de hoje. Na segunda parte do livro, entrevistas com Caetano Veloso, Fernando Gabeira, José Dirceu, Franklin Martins, Heloisa Buarque de Holanda, Fernando Henrique Cardoso e outras testemunhas que viveram a época.

Se o ano de 1968 terminou? Quanto mais se investiga sobre o assunto, esta é uma dúvida que só aumenta. De todos que escreveram sobre este ano mítico, como afirma Zuenir Ventura, só Morin estava certo: "Vão ser precisos anos e anos para entender o que se passou". E 40 anos, ao que parece, ainda não foram suficientes.

terça-feira, 27 de maio de 2008

ÉTICA E RESPONSABILIDADE NO JORNALISMO: UTOPIA OU ALGO PASSÍVEL DE REALIZAÇÃO?



A ética é um campo de reflexões cujo foco é a análise das relações entre os indivíduos. De maneira simples, a ética é aquela que trata da escolha entre “o bem” e “o mal”, levando em conta os interesses da maioria. As profissões relacionadas às Comunicações têm uma função estratégica na sociedade, sendo, por isso, permanente objeto de discussões éticas.
Espera-se do jornalista uma atitude objetiva em relação à elaboração das notícias. Este deve seguir, segundo as expectativas da sociedade, as premissas básicas de imparcialidade e compromisso com a verdade. Um fato que perde sua notoriedade em meio a tantas regras é a subjetividade própria de qualquer indivíduo. Inerentemente, a pessoa que escreve deixará suas marcas, influenciadas por seu vocabulário e ideologia. Essa constatação é que torna a ética no Jornalismo, não inatingível, mas longe de ser um dogma.
Ainda neste âmbito, outra questão a ser analisada é a tão aclamada liberdade de imprensa. A liberdade de expressão, direito garantido por lei, dá margem ao conflito, já que a princípio qualquer pessoa pode expressar suas idéias e pensamentos sem nenhum tipo de mediação. Toda essa liberdade insere mais um tópico ao embate: a responsabilidade. A responsabilidade social não é um conceito novo e ao longo do tempo tornou-se um modelo a ser aplicado principalmente às empresas jornalísticas.
Segundo esse modelo, qualquer pessoa que disponha de liberdade tem obrigações para com a sociedade. A exemplo disso, o famoso relatório da Hutchins Commission - “Uma imprensa livre e responsável” - definiu as diretrizes a serem seguidas pela mídia na sociedade moderna. O estudo resumiu as cinco principais exigências a serem cumpridas pelos meios de comunicação. Esses principais pontos se tornaram a origem dos critérios levados em conta para a designação do “bom jornalismo” - isenção, exatidão, objetividade, diversidade de opiniões e interesse público.
Influenciado por estes pressupostos, o Código de Ética do Jornalismo Brasileiro, que vigora desde 1987, existe como uma tentativa de reger a prática jornalística. Como a profissão do jornalista é imprevisível e dinâmica, o Código de Ética não é capaz de conter todas as situações às quais o profissional é exposto. Além disso, o jornalista é subordinado a um sistema que possui, também, seus interesses econômicos, institucionais e políticos. Dessa maneira, o Jornalismo está inserido em um conflito ético diário.
Partindo dessas informações fica fácil entender o impasse ético jornalístico. A ética no Jornalismo existe? Quais as dimensões da responsabilidade de um jornalista? Para compreender essas questões é preciso uma breve explicação sobre a capacidade de influência da mídia. No contexto desses estudos há inúmeros casos que tentam explicitar esse poder de influência.
Dentre os caos mais notórios podemos citar “O Caso Welles”, ocorrido em 1938. Reconhecida como um marco histórico das telecomunicações, a transmissão de “A Guerra dos Mundos”, liderada por Orson Welles, levou mais de 1,2 milhão de pessoas a um delírio paranóico, em uma descrição de um ataque de Marte à Terra. Apesar de se tratar de uma ficção, milhares de pessoas se viram aterrorizadas, ocasionando uma onda de fugas e medo. Um programa da mesma natureza foi transmitido em São Luís do Maranhão, em 1971, repetindo a façanha.
Esses episódios comprovam o inegável poder da comunicação. O jornalista deve se atentar à responsabilidade que carrega ao levar informações à população, que tende a acreditar em tudo que é veiculado. Exemplo disso é o filme “O Preço de uma Verdade”, baseado em fatos reais, onde o jornalista Stephen Glass ascende rapidamente em sua carreira através de textos falsos ou de autoria de outras pessoas. O filme tornou-se importante por explicitar uma triste realidade do mundo jornalístico.
Não é preciso ir longe para achar exemplos dessa realidade. Atualmente o jornalismo oscila entre a romântica imagem de porta-voz da opinião pública e juiz da sociedade e a de empresa sem escrúpulos comprometida apenas com os lucros. Exemplo disso é o “Caso Veja”, documentado em forma de dossiê pelo jornalista Luís Nassif. Luís denuncia o antijornalismo da revista, que envolve tráfico de influências, interesses corporativos e destruição de reputações.
O frágil equilíbrio entre interesses públicos e privados, lógicas econômicas, liberdade jornalística e ética individual de cada jornalista é ainda um objetivo difícil de ser alcançado. Talvez o jornalismo como um todo ainda tenha muito o que aprender com o velho relatório da Hutchins Commission. É tempo de pensar mais na responsabilidade daqueles que escolheram como profissão o Jornalismo. As regras de conduta que pressupõem o “bom jornalista” nada mais são do que tentativas de assegurar ao leitor algo essencial: o direito à informação de qualidade.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O PODER DA MÍDIA



A discussão sobre a capacidade de influenciar as pessoas que os meios de comunicação de massa possuem é desde sempre um dos tópicos mais presentes no que concerne à pesquisa sobre a comunicação. Desde as primeiras teorias acerca desse assunto, onde se acreditava que a mensagem tinha poder instantâneo e absoluto sobre as pessoas, até as teorias mais atuais, onde já se sabe que os meios de comunicação influenciam as pessoas à medida que estas já tenham uma predisposição a essa mensagem, este sempre foi um paradigma constante e amplamente debatido.

O poder que uma mensagem tem de interferir nas opiniões dos receptores depende de vários fatores que se interligam. Antes de mais nada é preciso se atentar ao contexto social, histórico e econômico em que dada mensagem esta sendo veiculada. Em segundo plano é preciso que haja uma análise do grau de conhecimento e estudo da audiência, seu interesse em adquirir informação, a credibilidade do comunicador, a ordem de argumentação da mensagem, o tipo de veículo utilizado, dentre inúmeras outras variantes que interferem no processo de captação de uma mensagem pelo público. Também é preciso ressaltar as diferenças individuais, as características de personalidade que existem entre esses receptores, que fazem com que seja natural pressupor que haverá diferença nos efeitos produzidos a essas mensagens.

No âmbito dos estudos relativos à influência dos meios de comunicação, há inúmeros casos que tentaram explicitar e aplicar de modo empírico estes pressupostos. Dentre os mais notórios, podemos citar O Caso Welles, ocorrido em 30 de Outubro de 1938. Reconhecida como um marco histórico das telecomunicações, a transmissão de A Guerra dos Mundos, encenada pelo grupo de teatro Mercury no Ar, liderado por Orson Welles, entrou para a história por ter levado mais de 1,2 milhão de pessoas a um delírio paranóico, em uma descrição de um ataque de Marte à Terra.
A percepção era de que os eventos durante a transmissão ocorriam ao vivo, embora não passasse de uma dramatização em formato jornalístico. Transmitido na véspera do Halloween, o programa foi várias vezes interrompido por diversos boletins de notícias (falsos) que supostamente cobriam os acontecimentos da narrativa de H.G. Wells. A transmissão foi interrompida de forma crescente, criando-se uma tensão cuidadosamente construída utilizando-se de entrevistas com autoridades e dramáticas descrições dos acontecimentos. Ao final da transmissão o locutor revelou que o programa em caso era uma ficção, mas, apesar do esclarecimento, milhares de americanos se viram aterrorizados pela ameaça extraterrestre, ocasionando uma onda de fugas e de medo pelas ruas das principais cidades.

domingo, 25 de maio de 2008

É PRECISO PARAR

Atualmente estamos vivenciando uma transição de uma sociedade industrial para uma sociedade do conhecimento, da tecnologia. Neste momento a palavra chave que cerca o cenário não só brasileiro, mas mundial, é a mudança. De acordo com Peter Drucker em seu livro Sociedade pós-capitalista, as atividades que ocupam o lugar central das organizações não são mais aquelas que visam produzir ou distribuir objetos, mas aquelas que produzem e distribuem informação e conhecimento.¹ O conhecimento tornou-se um dos principais fatores para tornar possível a mobilidade social e a superação de desigualdades.
Nesta Sociedade do Conhecimento as mudanças e as inovações tecnológicas ocorrem em um ritmo muito acelerado. A partir da banalização da maioria destas tecnologias e de formas de propagação do conhecimento, situação esta que já vem se consolidando até mesmo nos países de Terceiro Mundo, a sociedade atual adquiriu novas maneiras de viver e de se organizar.
Devido a toda essa tecnologia, muito tempo é poupado, o que se deve principalmente pela não obrigatoriedade de deslocamentos físicos para a realização de diversas tarefas comuns ao cotidiano das pessoas. Muitos serviços podem ser realizados pela internet, em tempo real. Se antes as pessoas precisavam enfrentar filas para tirar seus extratos, para comprar um livro ou até mesmo para assistir um filme, hoje tudo pode ser feito em um piscar de olhos. Velocidade. Esse é o termo que sintetiza a maioria das mudanças por que passa a sociedade capitalista, sociedade esta onde o tempo é um dos bens mais preciosos.
A valorização demasiada do tempo vem causando diversas conseqüências para a população destas sociedades. Além das conseqüências positivas indiscutíveis como a modernização, a dinamização e o progresso destas populações, há pontos negativos que dificilmente são lembrados ou discutidos. As relações humanas vêm se tornando cada vez mais distantes devido a essa nova era. O homem está com sua atenção voltada para toda essa rápida transformação, muito mais do que para com sua relação com as outras pessoas.
Contatos como uma conversa com a família na hora do jantar, um papo descontraído com as pessoas da fila de um banco ou a leitura de um bom livro, não por obrigação, mas por vontade de fazê-lo, são coisas que cada vez mais são consideradas como menos importantes. Esse tipo de pensamento contribui para o mal-estar das pessoas em geral. Para a maioria da população, as relações humanas são quesitos de peso no quadro geral de seu conforto.
Esse distanciamento das relações interpessoais, evidenciado atualmente, acaba por gerar insatisfações, angustias, medos, vazios e ansiedade nas pessoas. Muito disso pode ser confirmado por um simples exercício de questionamento. Se nos perguntarmos quantas das pessoas que já passaram por nossas vidas que sabemos o paradeiro, se estão bem, será fácil na maioria dos casos averiguar que há sim um descaso com as relações humanas. Este descaso é inerente, e reflexo de uma sociedade regida pela lógica do mercado e do consumo. Exemplo disso é que até a humanização já se tornou um produto “rentável”, com cursos para humanizar empresas, escolas, hospitais.
Não só a relação entre as pessoas, mas tudo de um modo geral vêm se tornando efêmero. Tudo fica velho e em desuso rapidamente, e a reação das pessoas é estar sempre atrás do novo. Essa velocidade que caracteriza a nossa sociedade atualmente cresce cada dia mais, tornando tudo transitório.
É preciso discutir sobre toda essa velocidade. Será que não estamos perdendo com essa falta de contato humano? É preciso que haja um questionamento acerca dessas questões, junto com medidas para conter essa situação. As relações humanas são tão ou mais importantes que as relações econômicas ou políticas em uma sociedade, e não atentar para isso é fadar a população à problemas ainda mais sérios a longo prazo, pois a saúde mental do ser humano depende em muito da maneira com a qual ele se relaciona com as pessoas a sua volta. É preciso parar pra pensar em quais serão as conseqüências se o ritmo das mudanças continuar esse. É literalmente necessário, parar.

Referências
1. DRUCKER,P. F. Sociedade pós-capitalista. 7.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 208 p.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

O CUSTO DOS DEPUTADOS E SENADORES PARA O BRASIL: UMA VERGONHA

Depois de assistir à esse vídeo, por acaso, através de um e-mail que recebi, não pude ficar indiferente. É isso que estão fazendo com o meu dinheiro, com o dinheiro suado do meu trabalho ( e de milhares de brasileiros )? GENTE, ALGO TEM QUE SER FEITO! Ficar indignados apenas, não basta. Estamos todos muito acomodados... há quanto tempo não vemos uma grande manifestação ou reivindicação no Brasil, que tenha realmente provocado mudanças efetivas? É preciso quebrar essa inércia que nos impede de lutar pelo o que é nosso de direito.
Aproveitando as comemorações dos 40 anos de 1968 ( que comentarei em breve aqui no blog ), podíamos relembrar o espírito vivenciado naquela época. A geração de 68 queria mudanças, lutou por mudanças. Existiam milhares de movimentos que lutavam contra tudo o que consideravam errado ou injusto. Graças a deus, atualmente vivemos numa democracia, mas será que a luta contra a corrupção não é uma luta tão válida quanto a luta pela derrubada do regime ditatorial? Claro, não estou aqui querendo igualar as proporções das duas questões, estou apenas atentando para o fato de que uma democracia doente, infestada pela corrupção, de nada adianta em termos tácteis. Se todo esse dinheiro é desviado para os bolsos ou cuecas dos políticos, quanto se está deixando de investir em educação, saúde, saneamento básico, obras de infra-estrutura e programas sociais?
É o seu dinheiro, o meu dinheiro, decorando apartamentos de reitores pela bagatela de 500 mil reais. É o seu dinheiro, o meu dinheiro, comprando votos para aprovações de projetos de lei. É o seu dinheiro, o meu dinheiro, pagando viagens para a Europa, carros importados e casas luxuosas para os nossos queridos parlamentares. É o seu dinheiro, o meu dinheiro, que pagam os 11.545 reais gastos por minuto por cada deputado eleito neste país.
"As coisas vão melhorar". É o que mais escuto. Esperar dos políticos uma atitude mais correta? Apenas esperar, esperar e esperar? Infelizmente, no que se trata de política no Brasil, enquanto não nos levantarmos do sofá da sala, desligarmos a novela e formos literalmente à luta, pouca coisa será mudada. Infelizmente, no que se trata de política no Brasil, enquanto o voto for obrigatório, pouca coisa será mudada. Mas aí já é outra discussão! rs

DIGA NÃO À VIOLÊNCIA INFANTIL


A tragédia de Isabella causou comoção nacional, ganhou todas as manchetes de jornais, internet, rádio e televisão. Muitas outras histórias de violência doméstica infantil (não como essa, que como eu já disse, na minha opinião, são de cunho patológico) acontecem todos os dias, sem que se tornem objeto de interesse público. Quantas crianças já foram vítimas de violência e as pessoas não sabem? Até quando este “ar de indignação” tomará conta da população durante dias, sem que nada seja feito, até o dia em que uma nova manchete venha a chamar a nossa atenção?

Há uma violência infantil invisível. Muitos pais e responsáveis se acham no direito de agredir as crianças, como se fossem seus donos, com a frágil desculpa de que estão educando-as. Este é um assunto que tem que ser levado a sério, que deve ser trazido para um debate nacional. Essas crianças precisam ser protegidas por lei. É inadmissível esta violência doméstica infantil, chegando à tragédia de atirar uma criança pela janela. Estes seres desprotegidos estão submetidos a todo tipo de violência física, psicológica, sexual, e isso não acontece só no Brasil. O que existe na verdade é um problema mundial que deve ser considerado como um tema de grande preocupação de todos os poderes e instituições.

É preciso conscientizar a população. Todo o cidadão deve se sentir responsável por cada criança deste país, denunciando qualquer tipo de violência. Atitudes como essas colaborariam para que menos casos de violência passassem despercebidos, invisíveis aos olhos da população e Estado. Toda esta cadeia de maus-tratos que ocorre por debaixo dos panos é motivo de repulsa. A criança precisa ser respeitada e protegida, vista como prioridade absoluta já que é símbolo do futuro. É este o futuro que população e governo desejam ter?

A INDÚSTRIA DE CATARSES

Quando li a respeito do caso do austríaco Josef Fritz fui tomada por um enorme sentimento de repulsa, o mesmo que sentira pouco tempo atrás quando as primeiras manchetes sobre o caso de Isabella começaram a estampar a capa dos jornais. Como um pai - se é que nesse caso cabe o uso deste substantivo - poderia trancar sua própria filha em um porão durante 24 anos? Como um pai pôde ter estuprado essa mesma filha, tendo com ela seis filhos, tornando-se “pai-avô” das crianças? Pior ainda, como tudo isso pôde passar despercebido aos olhos da mulher de Fritz, dos vizinhos e da sociedade? Confesso que uma mistura de choque, indignação e ânsia por justiça são sentimentos quase inevitáveis sob esses questionamentos, e que por poucos instantes me vi quase que nadando, com bóia e tudo, na piscina de notícias sensacionalistas à qual somos submetidos constantemente pelo atual jornalismo.

Não seria de se admirar que notícias acerca desse caso, igualmente trágico e extremo, tomassem conta de todos os tipos de mídia, a exemplo do caso Isabella. Visões privilegiadas, coberturas inéditas e revelações arrebatadoras apareceriam aos montes, numa espécie de venda de camarotes VIP – “assista do melhor ângulo a cobertura de todos os acontecimentos”. Meu deus será que as pessoas não irão acordar para o fato de que a violência doméstica, que é muito mais freqüente do que se imagina e muito menos debatida pela mídia do que deveria, não ocupa o espaço que um caso como este – de evidente psicopatologia – ocupa na imprensa?

Casos como esses não devem ser usados como parâmetro para discussão da população acerca da violência doméstica, pois resultam de problemas psiquiátricos, não massivos. Comportamentos como o de jogar uma criança pela janela ou o estupro de uma filha, mantendo-a em cativeiro por tantos anos, a meu ver não podem ser apenas desvios de conduta. Resta desses casos apenas o sensacionalismo que visa à venda de mídia sem finalidade social.

Crimes como esses devem sim ser punidos com rigidez, mas deve-se atentar a importância que a mídia dá a estes, com o único intuito de provocar uma verdadeira catarse, visando o lucro, e não o jornalismo sério.